segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Marise Ribeiro - Aviso das Bruxas?



Aviso das Bruxas?

October 31 – dia em que se comemora o Halloween, nos EUA, tradição cultural que nosso país tenta importar e eu me pergunto sempre: Por quê?

Encontrava-me em Manhattan, um dos distritos da cidade de Nova Iorque, no dia 31 deste ano e, por motivos alheios à minha vontade, em vez de participar da nossa festa democrática no 2º turno do pleito eleitoral, aproveitei o “exílio”, para entender o que representa o tão badalado Dia das Bruxas norte-americano.

Estive em Nova Iorque em outras oportunidades, mas nenhuma delas no dia dessa celebração.

No final da semana anterior, havia estado na Filadélfia, Pensilvânia, visitando minha irmã e meu cunhado, residentes daquela cidade. Vi alguns jardins ornamentados com abóboras, fantasminhas feitos com panos brancos ou com sacos de lixo pretos, teias industrializadas que mais pareciam algodões desfiados e alguns espantalhos. Entretanto, bem menos residências enfeitadas do que a quantidade criada pela minha expectativa. Casas assim significam portas abertas à distribuição de guloseimas.
Lá, segundo minha irmã, a data é festejada pelas crianças e pelos jovens que, fantasiados ou mascarados, batem apenas nessas casas assinaladas pelos enfeites. Afora a parte decorativa em imóveis e pessoas, é o nosso Dia de São Cosme e Damião.

Na ilha já é um pouco diferente. Em caminhadas pelas ruas nova-iorquinas, inclusive as residenciais, percebi que a decoração se concentra mais em abóboras nas calçadas do que nas casas. Crianças e adultos se fantasiam desde a véspera e vivem o seu cotidiano desse modo, com vestimentas engraçadas, exóticas ou apenas com adereços na cabeça. Trabalham, vão às compras, aos restaurantes..., como se aquelas roupas fossem casuais ou formais.

Para minha surpresa, não me deparei com monstros, bruxas, fantasmas, ou qualquer outra alusão ao terror, nas ruas da grande maçã. Cruzei com vários marios bros, alices, gatinhos, enfermeiras, abelhinhas, dinossauros, fadas, anjinhos, elvis e adereços singelos na cabeça. Resumindo: é um Carnaval pra lá de sem graça!

Uma das origens do Halloween é a de se comemorar o final do verão, porém, nessa data, o Hemisfério Norte já se encontra há um mês e 10 dias, inserido em pleno Outono. E, pra não dizer que não falei de folhas, ressalto o fascínio que me causa o colorido daquela estação lá, na real simbologia da renovação.

Naquela noite de 31 de Outubro, a uma temperatura de 6º C, fazendo um trajeto turístico que gosto de relembrar, subindo a Broadway, cruzando a 59 - rua do Central Park -, para depois descer a Quinta Avenida, voei como uma folha seca, ao sabor do vento gélido, e fui parar no chão. Levantei-me, sacudi a poeira, fiz cara de paisagem primaveril e continuei minha caminhada.

Nenhum sinal de buracos, degraus ou algo que acusasse o desequilíbrio. Será que já estou também no meu outono, despencando silenciosamente, ou teria sido um aviso das bruxas, por não haver apreciado o seu dia?...
Imagem: Bushkill Falls - Pensilvânia
Amigos, estou de volta e espero por vocês.

9 comentários:

Sonia Pallone disse...

Que narrativa deliciosa, querida! E apenas uma correção: Anjos não caem...deslizam, ou voam sorrateiramente...Bjs amiga, seja bem vinda.

guaraci disse...

Viajei na sua narrativa.... muito real!!!

Anônimo disse...

Parabéns!...adorei!..maravilhoso!
big abraço no coração!
Myrna.

TiliaCheirosa disse...

Querida Marise, eu adorei sua história e adorei vc se achar no outono, coincidentemente fiz um poema me colocando nesta estação, hoje estou meio triste e parece que esta minha primavera, anda um pouco amarelada.
Seja bem vinda
Tília Cheirosa

Eliane F.C.Lima disse...

Marise,
Para nós que temos quatro estações - calor, um pouco menos de calor, preparação para o calor tórrido, calor tórrido -, essas diferenças climáticas são surpreendentes. Estar em uma temperatura tão baixa já nos faz sentir um ser extraordinário. Daí para as bruxas é um pulo.
Concordei com quem disse que a narrativa está ótima. Você precisa entregar-se, de vez, à ficção. Deixe a tal bruxa chegar mesmo.
Eliane F.C.Lima

Gilia Gerling disse...

Marise!
Gostei da cara de "paisagem primaveril" para levantar do tombo internacional... Felizmente as bruxas foram boazinhas e você não se machucou!

Já passei dois dias das bruxas lá nos USA, em outros tempos e era tudo muito suave e recheado de guloseimas, mas não estava em NY e sim, a primeira vez em San Diego e a outra em uma pequena cidade perto de Chicago.

As bruxas vão se aprimorando...
Mas não acho que foi uma reprimenda delas por você não ter apreciado o dia...foi só um empurrãozinho para você nos contar da forma como nos contou, como sempre com tuas características de leveza interior!
Abraço e seja bem-vinda!
Gilia

TerePenhabe disse...

Bela prosa, amiga! E é bom demais ter você de volta ao nosso convívio. Seja bem-vinda com bruxarias boassssssssss beijosss

Graça Lacerda disse...

Sacudir a poeira e fazer cara de paisagem primaveril...

não há nada que se iguala a essa graciosa atitude, amiga!!
Parabéns, um texto muito "cult" e gostoso de se ler...

Beijos,
Abraços e laços!

Eliane Triska disse...

Oi querida viajante outonal. Nosso imaginário é bem melhor que certas realidades concebidas, bem assinalado na tua narrativa. Interessante o sentido atribuído ao tombo. Adorei! Mas daí pode-se começar outra história rs
Bem-vinda às terras brasileiras!
Beijos
Eliane