quinta-feira, 30 de abril de 2009

Feliz Dia das Mães!



Clique na imagem para melhor visualização.

Martins Fontes



Minha Mãe

Beijo-te a mão, que sobre mim se espalma
Para me abençoar e proteger,
Teu puro amor o coração me acalma;
Provo a doçura do teu bem-querer.

Porque a mão te beijei, a minha palma
Olho, analiso, linha a linha, a ver
Se em mim descubro um traço de tua alma,
Se existe em mim a graça do teu ser.

E o M, gravado sobre a mão aberta,
Pela sua clareza, me desperta
Um grato enlevo, que jamais senti:

Quer dizer - Mãe! Este M tão perfeito,
E, com certeza, em minha mão foi feito
Para, quando eu for bom, pensar em ti.

Susan Boyle



Como o Scenarium é arte e toda arte leva à emoção, não poderia faltar o vídeo que emocionou a todos nos últimos dias.

Susan estourou na rede após cantar no programa de TV "Britains got talent". Julgada por sua aparência, ela surpreendeu o público e os jurados ao cantar de forma perfeita. Seu vídeo no YouTube soma mais de 100 milhões de exibições e se tornou o mais visto da história da web.
Para rever a performance de Susan, agora legendado em português, e tornar a se emocionar, é só clicar na imagem. Para assistir à apresentação de Susan, aos 22 anos de idade, cantando The Way We Were, é só clicar no link abaixo:

Mensagem - O que é aquilo?



De uma situação extremamente simples, seus criadores enviam-nos uma mensagem para a qual não há necessidade de explicação. Está um tanto exagerada, uma vez que o pai demonstra no final que fez de caso pensado, mas mesmo assim há a intenção clara de dar uma chicotada na consciência de muitas pessoas. Caberia aqui também a mãe no lugar do pai.
Recebi da Anna Machado e compartilho com vocês.

Clique na imagem para assistir ao vídeo.

Fernando Peixoto



Identificação

Sei quanto me queres porque te quero
e queremo-nos ambos com ardor.
Esperas-me também porque te espero
e nessa espera aumenta o nosso amor.

Eu vejo à minha frente os teus desejos
no brilho dos meus olhos reflectidos,
e sinto nos meus lábios os teus beijos
despertando-me todos os sentidos.

Eu leio nos teus versos os meus versos
e ao ler-te tenho esta visão suprema
de ver fundir-se os nossos universos
na imensa galáxia de um poema.

E sem te ter eu tenho-te ao meu lado
e tu, que estás distante, estás tão perto,
que acabo por dormir sempre acordado
no berço do teu colo em que desperto.

Que este amor, meu Amor, é mesmo assim
e o que parece ser contradição,
não é mais, afinal, que a afirmação
de que eu só sou quem sou porque és em mim.

© Fernando Peixoto
Vila Nova de Gaia, Portugal
http://arcadeternura.blogspot.com/

Paul Éluard


Retrato de Paul Éluard, por Salvador Dali. 1929

Liberté

Sur mes cahiers d'écolier
Sur mon pupitre et les arbres
Sur le sable sur la neige
J'écris ton nom

Sur toutes les pages lues
Sur toutes les pages blanches
Pierre sang papier ou cendre
J'écris ton nom

Sur les images dorées
Sur les armes des guerriers
Sur la couronne des rois
J'écris ton nom

Sur la jungle et le désert
Sur les nids sur les genêts
Sur l'écho de mon enfance
J'écris ton nom

Sur les merveilles des nuits
Sur le pain blanc des journées
Sur les saisons fiancées
J'écris ton nom

Sur tous mes chiffons d'azur
Sur l'étang soleil moisi
Sur le lac lune vivante
J'écris ton nom

Sur les champs sur l'horizon
Sur les ailes des oiseaux
Et sur le moulin des ombres
J'écris ton nom

Sur chaque bouffée d'aurore
Sur la mer sur les bateaux
Sur la montagne démente
J'écris ton nom

Sur la mousse des nuages
Sur les sueurs de l'orage
Sur la pluie épaisse et fade
J'écris ton nom

Sur les formes scintillantes
Sur les cloches des couleurs
Sur la vérité physique
J'écris ton nom

Sur les sentiers éveillés
Sur les routes déployées
Sur les places qui débordent
J'écris ton nom

Sur la lampe qui s'allume
Sur la lampe qui s'éteint
Sur mes maisons réunies
J'écris ton nom

Sur le fruit coupé en deux
Du miroir et de ma chambre
Sur mon lit coquille vide
J'écris ton nom

Sur mon chien gourmand et tendre
Sur ses oreilles dressées
Sur sa patte maladroite
J'écris ton nom

Sur le tremplin de ma porte
Sur les objets familiers
Sur le flot du feu béni
J'écris ton nom

Sur toute chair accordée
Sur le front de mes amis
Sur chaque main qui se tend
J'écris ton nom

Sur la vitre des surprises
Sur les lèvres attentives
Bien au-dessus du silence
J'écris ton nom

Sur mes refuges détruits
Sur mes phares écroulés
Sur les murs de mon ennui
J'écris ton nom

Sur l'absence sans désir
Sur la solitude nue
Sur les marches de la mort
J'écris ton nom

Sur la santé revenue
Sur le risque disparu
Sur l'espoir sans souvenir
J'écris ton nom

Et par le pouvoir d'un mot
Je recommence ma vie
Je suis né pour te connaître
Pour te nommer

Liberté.

“Além de ser um poema magnífico do ponto de vista literário, "Liberté", de Paul Éluard, carrega consigo o peso da História. Escrito em 1942, com o título "Une Seule Pensée" (Um Único Pensamento), este texto foi transportado clandestinamente da França, ocupada pelos nazistas, para a Inglaterra.
Em 1943, traduzido para vários idiomas, o poema foi distribuído como um panfleto, lançado por aviões aliados nos céus da Europa conflagrada.
O responsável por contrabandear esta preciosidade da França ocupada para a Inglaterra foi um brasileiro, o pintor pernambucano Cícero Dias (1907-2003). Em reconhecimento a essa proeza, Dias foi condecorado pelo governo francês com a Ordem Nacional do Mérito, em 1998.
Paul Éluard — nom de plume de Eugène-Émile-Paul Grindel (1895-1952) — foi um dos expoentes da poesia surrealista. Membro do partido comunista francês, participou da Resistência aos nazistas na Segunda Guerra Mundial.
Além do ato heróico de Cícero Dias, Éluard tem outro ponto de contato com o Brasil. Em 1913-14, foi colega do poeta Manuel Bandeira num sanatório em Clavadel, na Suíça. Lá, ambos se tratavam de tuberculose.

Aqui, o poema "Liberté", ou "Une Seule Pensée", aparece numa tradução escrita a quatro mãos, ainda nos anos 40, por Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira. Compreensivelmente, existe uma profusão de traduções deste poema. Em minha opinião, esta é, de longe, a melhor. Há outras também competentes, como a de Guilherme de Almeida. Mas a internet está cheia de versões grosseiras e amadoras.”

Para ler o poema traduzido por Drummond e Bandeira, visite a página abaixo:
http://www.algumapoesia.com.br/drummond/drummond23.htm

Sueli do Espírito Santo



O Vento Levou

Viajei para dentro de mim
e coisas incríveis eu vi
tantas situações revivi
parecia duas de mim

Na gaveta da memória
lidei com alegrias e tristezas,
decepções que foram surpresas
como páginas de uma história

E o meu pensamento divagou
para longe... além, muito distante
e aconteceu tudo em um instante
aquelas páginas o vento levou

E tudo ficou lá no passado
e um novo ser veio renascer
aberto para um novo acontecer
renovado, mais preparado

para viver qualquer momento
ouvindo sempre o coração
seguindo a melhor direção
pois que tudo se vai com o vento

© Sueli do Espírito Santo
Santo André (SP) – Brasil
http://recantodasletras.uol.com.br/autor.php?id=1391

Tarkan - Dudu


Recebi este vídeo da Ana Suzuki, gostei tanto, que fui pesquisar sobre a vida e a obra de Tarkan. Aprecie sua música, clicando na imagem.

“Tarkan é hoje um dos grandes ídolos da música pop na Turquia, fazendo também um grande sucesso internacionalmente. Ele abriu o mercado de música turca para um tipo de música que não era tocada lá. Suas músicas têm uma mistura de estilos do oriente e ocidente com um fundo pop.

Tarkan começou a fazer sucesso por volta de 1994 depois de aparecer ao vivo em um programa especial de música pop para a rede de rádio e televisão turca. Ele nasceu em 1972 na Alemanha e morou lá até completar seus 16 anos. Seus pais eram emigrantes turcos. Em 1986, ele retornou à Turquia para estudar música e começou a tocar em bares e casa noturnas de Istambul. Tarkan teve uma educação em música clássica e escreve suas próprias músicas. Estudou no conservatório de Karamurel, na Turquia, e teve como professores vários mestres turcos.

Ele conheceu então Mehmet Sogutoglu que fez dele uma estrela da música pop turca. Seu primeiro álbum foi "Yine Sensiz" ( Sem você de novo), lançado em 1992, e vendeu 700 mil cópias. Seu segundo álbum, lançado em 1994, "Acayipsin" (Você é sensacional) vendeu mais de 2 milhões de cópias na Turquia e 700 mil cópias na Europa, um evento único para um cantor turco.

Em 1997, depois de ter feito uma longa pausa de 3 anos, Tarkan lançou seu terceiro álbum, "Olurum Sana" (Morro por você) e fez também um tour internacional, no qual lotou um estádio em Londres, o Bataclan em Paris e o Arena em Berlim. Quando o álbum foi lançado, ele alcançou o terceiro lugar na França e o primeiro lugar na Bélgica e na Alemanha.

Seu quarto álbum foi lançado em 1999, com o título de "Tarkan", contém uma coletânea de suas melhores músicas, e foi criado especialmente para conquistar mercados internacionais, como a Europa, Ásia, Estados Unidos e America Latina.

Em 2001 ele lançou o álbum "Karma", que foi um sucesso na Turquia e na Europa.

Em 2003, lançou o álbum "Dudu", que contém 5 músicas e 5 remixes. Tarkan fez também uma turnê pela Turquia e várias apresentações para a televisão turca. Ele segue sendo um ídolo para os turcos e segue conquistando o público internacional.

Curiosidades: A feiticeira, no Brasil, usava uma de suas músicas em suas apresentações e essa música do Tarkan continha sons de beijos! Ela continha os refrões “chicadum, chicadum” e fez muito sucesso aqui, porque as crianças adoravam-na.”
Fonte:
http://www.webletras.com.br/biografia/tarkan

Se você gostou da música do Tarkan, clique no link abaixo e assista a mais vídeos-clipes com suas composições. Eu adorei!
http://www.pegacifras.com.br/video-clips/tarkan

Mário Quintana



Os Parceiros

Sonhar é acordar-se para dentro:

de súbito me vejo em pleno sonho
e no jogo em que todo me concentro
mais uma carta sobre a mesa ponho.

Mais outra! É o jogo atroz do Tudo ou Nada!
E quase que escurece a chama triste...
E, a cada parada uma pancada,
o coração, exausto, ainda insiste.

Insiste em quê? Ganhar o quê? De quem?
O meu parceiro... eu vejo que ele tem
um riso silencioso a desenhar-se

numa velha caveira carcomida.
Mas eu bem sei que a morte é seu disfarce...
Como também disfarce é a minha vida!

Mário Quintana
(Soneto nº 1 de A Rua dos Cataventos - 1940)

Mais poesias de Mário Quintana em:
http://www.quintanares.blogspot.com/
http://www.estado.rs.gov.br/marioquintana/
http://www.fabiorocha.com.br/mario.htm

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Zena Maciel



Cansei... cansei...

Cansei de enxugar as frias

lágrimas da dor.
De rezar no sagrado terço do amor
e não desvendar seus indecifráveis mistérios.
Cansei de seduzir a amante ilusão
para que, nos braços da esperança,
acalentasse os ingênuos sonhos.
Cansei de escutar os soluços do coração
na alcova da solidão e me sentir
uma eterna refém da saudade.
Cansei de ver o pêndulo do relógio do tempo
não mudar de lugar
e seguir pelos abstratos dias.
Cansei dos suspiros da poesia,
dos seus beijos molhados de fantasias
lambuzados pelo mel dos desejos.
Cansei da prostituída realidade,
que com os olhos da maldade,
me conduziu a tantos secretos labirintos.
Cansei de ser escrava de um passado ateu
e de um presente que já não é meu.
Cansei de tudo... de tudo...
Do princípio... do meio
e da incógnita do fim.

Eu sei que vida é mesmo assim:
como uma cópula.
Algumas vezes boa e
em outras, simplesmentemuito ruim.
Não tenha pena de mim.
Eu já me acostumei
a viver assim: cansada.

© Zena Maciel

Recife (PE) – Brasil
2008

A Dança da Deusa da Misericórdia


O coreógrafo chinês Zhang Jigang criou uma apresentação de dança para permitir ao público contemplar a "Guan Yin de Mil Braços". O canal de televisão "China Central" apresentou este espetáculo ao vivo como comemoração do Ano Novo Chinês.
A dança foi apresentada por 21 dançarinas surdas integrantes da "Companhia de Arte Performática Chinesa de Deficientes Físicos." Posicionadas numa longa fila, as bailarinas conseguem dar aos espectadores a ilusão de que os movimentos de seus múltiplos braços e pernas pertencem à figura de uma única deusa.
Para assistir a este belíssimo espetáculo é só clicar na imagem.

"No budismo chinês, Kuan Yin, Guan Yin ou Guānyīn representa a compaixão ou misericórdia de todos os Buddhas e tem sua simbologia advinda do Bodhisattva Avalokiteshvara, divindade do budismo indiano, que dá origem a várias representações asiáticas, e que chega à China com o budismo no ano de 67, sincretizando-se com divindades femininas locais.
Kuan Yin está associada às características femininas da maternidade e proteção, na China estas características estão ligadas milenarmente de modo bastante forte à misericórdia.

Bodisatwa Guan-Yin foi consagrada, universalmente nas diversas correntes budistas, como principal figura da devoção. Não é necessariamente uma deusa, porque guarda traços humanos. Por exemplo, conta-se, na tradição popular, que ela foi uma princesa na antiga Índia, era a mais bela e piedosa entre todas; não gostava de vestidos luxuosos, nem de pratos finos feitos com carnes de animais, embora tudo isso lhe fosse oferecido como direito. Alimentava-se de verduras, porque não suportava ver animais sendo mortos; vestia-se de panos grossos porque gostava de ser simples; e era a mais piedosa entre as filhas. Mas quando chegou o momento de casar, fugiu do palácio porque queria buscar o seu caminho e se dedicar ao ascetismo, seguir o exemplo de Buda. Ao ser obrigada pelos seus pais a contrair casamento, ajoelhou-se diante do palácio do rei, durante dias e noites, sem nada comer, passando frio e tomando vento e chuva, apenas recitando o “Sutra da Grande Compaixão”. E assim, sua fé venceu todas as barreiras. Quando alcançou o Nirvana, não teve desprendimento suficiente para deixar o mundo, porque a sua compaixão era tão forte e infinita que lhe deu forças para fazer o maior voto que alguém podia desejar realizar: “enquanto houver almas sofredoras sobre a face da Terra, não abandonarei esse mundo, e ajudarei todos a alcançar a libertação”. E assim, ela é oficialmente chamada a “Grande Misericordiosa e Grande Compassiva Bodhisattva Guan-Shi-Yin” (a propósito, Guan-Shi-Yin, em chinês, significa literalmente: “Aquela que vê e que ouve o Mundo”)."

Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Kuan_Yin
http://www.hottopos.com/mp2/bodhisattva.htm

terça-feira, 14 de abril de 2009

Lilia Machado



Seja Eu, Tu... Nós!

Seja eu,
Sejas tu,
Sejamos NÓS...
Os nós dos lençóis!
NÓS cegos no cio...
NÓS nus!

Seja eu,
Sejas tu,
Sejamos NÓS em nós
Sem lençóis...
(Não importam lençóis)
Sejamos NÓS em nós
De pernas,
De braços
E de abraço apertado...
De lábios em beijos
E de corpos suados...
Sós!

© Lilia da Silva Machado
Rio de Janeiro (RJ) – Brasil
(In Poesia e Coisa e Tal)

Alberto Peyrano



En La Niebla

Desandar, como quien evoca

las horas incontables de la ausencia,
el yo, desesperado en la sordera
de parajes oscuros,
de ignotas caminatas
a la orilla de lagos que abrían en sus huecos
la promesa silenciosa de una luz mortecina,
al menos para saber que allí
la esperanza latía en agonía.
El viento, viejo amigo,
rugía en el ocaso anunciando
los apocalipsis de mis horas vanas
y el mar era besado
por un cielo gris
que bajaba sediento hasta sus aguas.
La niebla me envolvía.
Mi rosario de penas
desgastó mis dedos moribundos
junto al poema póstumo
de tu despedida.

© Alberto Peyrano
2006
Buenos Aires, Argentina

http://www.albertopeyrano.com.ar/

Na Névoa

Retroceder, como quem evoca
as incontáveis horas da ausência
e eu, desesperado na surdez
de lugares escuros,
de desconhecidas caminhadas
à beira de lagos que abriam em seus vazios
a promessa silenciosa de uma luz apagada,
ao menos para saber que ali
a esperança batia em agonia.
O vento, velho amigo,
rugia no crepúsculo, anunciando
o apocalipse de minhas horas vãs
e o mar era beijado
por um céu cinzento
que descia sedento até suas águas.
A névoa me envolvia.
Meu rosário de penas
desgastou meus dedos moribundos
junto ao poema póstumo
de tua despedida

Tradução – Marise Ribeiro

Gióia Júnior



Oração da Maçaneta

Não há mais bela música

que o ruído da maçaneta da porta
quando meu filho volta para casa.

Volta da rua, da vasta noite,
da madrugada de estranhas vozes,
e o ruído da maçaneta
e o gemer do trinco,
o bater da porta que novamente se fecha,
o tilintar inconfundível do molho de chaves
são um doce acalanto,
uma suave cantiga de ninar.

Só assim fecho os olhos,
posso afinal dormir e descansar.

Oh! a longa espera,
a negra ausência,
as histórias de acidentes e assaltos
que só a noite como ninguém sabe contar!

Oh! os presságios e os pesadelos,
o eco dos passos nas calçadas,
a voz dos bêbados na rua
e o longo apito do guarda
medindo a madrugada,
e os cães uivando na distância
e o grito lancinante da ambulância!

E o coração descompassado a pressentir
e a martelarna arritmia do relógio do meu quarto
esquadrinhando a noite e seus mistérios.

Nisso, na sala que se cala, estala
a gargalhada jovem
da maçaneta que canta
a festiva cantiga do retorno.
E sua voz engole a noite imensa
com todos os ruídos secundários.
- Oh! os címbalos do trinco
e os clarins da porta que se escancara
e os guizos das muitas chaves que se abraçam
e o festival dos passos que ganham a escada!
Nem as vozes da orquestra
e o tilintar de copos
e a mansa canção da chuva no telhado
podem sequer se comparar
ao som da maçaneta que sorri
quando meu filho volta.

Que ele retorne sempre são e salvo,
marinheiro depois da tempestade
a sorrir e a cantar.
E que na porta a maçaneta cante
a festiva canção do seu retorno
que soa para mim
como suave cantiga de ninar.

Só assim, só assim meu coração se aquieta,
posso afinal dormir e descansar.

Rafael Gióia Martins Júnior
© Gióia Júnior
Campinas (SP) – Brasil

Há tempos recebi este poema sem autoria e, como mãe, cada palavra dita aqui se encaixava perfeitamente com a angústia pela qual uma mãe passa à espera dos filhos que estão fora de casa. Egoisticamente não pensei nos pais, pois alimentava a certeza de que este poema havia sido escrito por uma mulher. Ao fazer a pesquisa da autoria, tive a grata surpresa em descobrir se tratar de um homem.

Pablo Neruda - Poema XX

Para ouvir melhor o fundo musical deste vídeo, aperte a pausa da play list no layout lateral do blog.

Anna Peralva



Alma de Palhaço

Desbotaram as cores,
envelheceram lembranças
da noite para o dia,
ou não?...
Nada mais de utopia ou fantasia
só a realidade nua e fria,
acabou a farsa!
Pincelo com fúria a tela sem vida,
uso cores das angústias sentidas.
Mascaro a pálida face,
uso massa ou argamassa
não quero que ninguém veja,
preciso de um disfarce
que endureça a tristeza.
Cubro de luto o corpo,
vivi por um amor bandido
hoje morto, banido!
Sob o manto do não ser
desvenda-se o não ter,
revela-se o não mais querer,
oposto do que pensei existir
desfaz-se o esforço de tanto insistir,
cai a lona...
Na trincada taça dos sonhos
transborda o sangue da dor,
sorvo da desilusão o amargor
de uma só vez!
Tranco os sonhos no armário escuro
e neste circo desleal e impuro,
amordaço emoções, calo o verso.
Mesmo no reverso, acho forças para sorrir...
Coração trincado em estilhaços,
por fora, matéria feita de aço;
por dentro,
chora minha alma de palhaço...

2007
© Anna Peralva
Rio de Janeiro (RJ) – Brasil
http://www.annaperalva.net/

Mensagem - Prof. Luiz Almeida Marins Filho



Saiba sair de cena

Uma das coisas que aprendi com pessoas de grande sabedoria é saber sair de cena, deixar o palco, sair da roda, mudar de assunto.

Saber o momento exato de fazer com que os holofotes fiquem sobre os outros e não sobre você. No mundo competitivo em que vivemos a sua presença "marcante" pode marcar demais. A sua idéia "brilhante" pode brilhar demais.

A forma "inovadora" de pensar pode inovar demais. E nem sempre as pessoas estão dispostas a deixar você brilhar impunemente.

É hora de sair de cena. Nem que seja por um tempo.

É preciso fazer os outros pensarem que você desistiu. É preciso dar a chance das pessoas acharem que você não quer mais estar no palco. Mas saber sair de cena é uma arte tão importante quanto saber entrar em cena.

Todo ator sabe disso.

Assim, é preciso sair de cena com classe. É preciso sair de cena com a discrição de um lorde inglês.

Quando as pessoas sentem-se ameaçadas por você e começam a ter respostas agressivas desproporcionais, talvez seja a hora de sair de cena.

Quando você, sem ter desejado ou planejado, começa a aparecer muito na sua área de atuação ou no seu setor de trabalho, talvez seja a hora de sair de cena por um tempo.

Saber sair de cena é também saber mudar de assunto. Quando as pessoas vêm lhe perguntar e comentar sobre o seu sucesso, sobre seus bens materiais, seu possível enriquecimento, etc, querendo fazer você falar sobre você - é hora de mudar de assunto.

É hora de sair de cena.

Os sábios sabem que você nada ganhará falando de você mesmo para os outros. Nem bem, nem mau. Mude de assunto.

Saia de cena.

Não caia nessa armadilha. Quando o embate se dará com poderosos e você conhece o poder destrutivo desses poderosos, pense bem antes de entrar no combate.

Talvez você ganhe mais saindo de cena.

Deixe a briga de cachorro grande para grandes cães. Saiba sair de cena.

Você terá outras oportunidades.

Você ganhará outras batalhas com menos estresse, com menores esforços. É preciso fazer um grande esforço de sabedoria para saber quando sair de cena.

É preciso ter uma grande capacidade artística para saber como sair de cena.

Será que temos tido a sabedoria e a arte de sair de cena, deixar o palco, mudar de assunto, na hora certa, no momento exato?

Prof. Luiz Almeida Marins Filho
Texto enviado por de Gloria Guedes

Carlos Drummond de Andrade



Amor e Seu Tempo

Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe

valendo a pena e o preço do terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.

© Carlos Drummond de Andrade
http://www.memoriaviva.com.br/drummond/

Pablo Picasso - Guernica



Guernica e uma tragédia nova

- Por favor, señor...

A guarda do museu se aproxima rapidamente e ordena que eu me levante do chão. Na grande sala branca que guarda o gigantesco painel não há cadeiras ou bancos – não é permitido sentar-se em frente à Guernica. Exige-se do espectador que se poste de pé, em silêncio respeitoso ao quadro pintado para o pavilhão espanhol da exposição internacional de Paris do ano 37 do século passado, quando Picasso estava sob o impacto da notícia do massacre de civis na pequena cidade basca de Guernica pelos aviões da Legião Condor, força aérea alemã na Espanha sob o comando direto do General Franco. Uma tonelada e trezentos quilos de bombas incendiaram a cidade, deixando mais de mil e seiscentos mortos.

Tanto já se escreveu sobre o quadro que é difícil não deixar que suas inúmeras leituras eclipsem a obra em si. Tenho uma ponta de inveja do grupo de crianças de seis anos de idade que escuta da professora a seguinte apresentação: “Esse é o quadro mais importante do museu. O senhor que o pintou se chamava Picasso e o quadro se chama Guernica. Vamos ficar aqui um pouquinho vendo o quadro e já vamos embora.” Depois do introdutório, ficam sentados, cochichando entre si, e eu pagaria tudo o que tenho no bolso para ter o olhar deles sobre o que vêem.

Os setenta e dois anos que nos separam da obra e da Guerra Civil Espanhola guardam uma guerra mundial e dúzias de genocídios. No entanto, algo nesse quadro me faz pensar que a arte contemporânea possa ter perdido a capacidade de traduzir a tragédia e o horror da guerra.

Guernica é um quadro que grita, monumento onde as lágrimas são flechas que os arregalados olhos cospem – e com essas setas Picasso traça a geometria irregular e monstruosa da tragédia humana em escala industrial como nenhum outro fez, antes ou depois. Guernica é uma obra atemporal, vestígio de um mundo onde a violência ainda não havia se convertido em banalidade ou simplesmente abstração.

Para ver-se Guernica é preciso passar bolsas e casacos por uma máquina de raio-x, sintoma da doença do nosso século. O quadro está no museu Reina Sofia, em Madrid, a duas centenas de metros da estação de trem de Atocha, onde em 2004 um atentado da Al Qaeda matou 191 pessoas. Guernica, o quadro que grita, fala também dessa tragédia, e sobrevive porque fala melhor do que qualquer obra que veio depois dele.

E o faz também porque o Picasso que pinta Guernica é um homem chocado. Com cinismo costurado aos olhos, os artistas que hoje vivem parecem incapazes de atingir a mesma contundência em traduzir a desgraça do nosso tempo.

E isso é outra tragédia - e isso é uma tragédia nova.

Vera Mussi



Não há nuvens...

Não há nuvens nesse momento...
Um céu aberto!
Só esperança no ar...
De Deus provêm os verdes sonhos!
Desafiando o pensamento,
alvas mãos se entrelaçam
entre as flores...
Despertam a confiança para amar...

Um olhar-menino é o abrigo!
Volta o amor amigo...
Busca o brilho do sol antigo...
Abre o coração sem rodeios!
Desejos e anseios
esquecem as dores de ontem...

Viajam pelas figuras marginais do além
e colhem as pétalas virginais...
São as rosas do amor desfeito!
Não há nuvens...
A céu aberto recebe o prêmio
do amor, todo respeito!

2006
© Vera Mussi
São José do Rio Preto (SP) - Brasil
http://www.veramussi.com.br/

Svetlana Zakharova e Igor Zelensky - O Corsário



Apresentação em comemoração aos 300 anos de fundação da cidade de St. Petersburg - 2003.

Principais dançarinos do Balé Kirov até o ano de 2003.
Depois disso, a bailarina Svetlana Zakharova passou a fazer parte do Balé Bolshoi.
Clique na imagem para assistir a esta belíssima performance.