domingo, 29 de abril de 2012

J. R. Cônsoli


















Ternuras

Oh, aqueles tempos... adolescência...
que aparecem nas telas do passado,
teu vulto vem... e foge com freqüência,
deixa o sorriso solto, imaculado.

Foram anos de muitos sóis – incríveis!
Nos quais amamos com inocência pura,
porque amantes ternos e sensíveis,
sem nada pra impedir nossa loucura.

Hoje te vejo em tudo - nos lugares...
na janela do quarto, na cortina,
no farfalhar da brisa vespertina.

A noite chega, sem pedir, me abraça,
eu sinto tua presença nos meus ares,
então beijo teus lábios na vidraça.

© J.R.Cônsoli
Pouso Alegre (MG) - Brasil

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Aldo Cordeiro
















Índios Yanomamis brasileiros
Foto: Fiona Watson

Dia do Esquecimento

Hoje é dia do índio. Como bom cara pálida, esqueci da data, e só lembrei agora, lendo uma piadinha a respeito.

Eles, ao contrário de mim, nunca esquecerão de que um dia tiveram uma terra, que conviviam em paz com a natureza.

Os que não foram torpedeados pelas mentiras da cultura européia, que tenta lhes arrasar a auto-estima desde 1500, não esquecem que todos os dias são dos invasores. Perdemos todos nós, porque, além de não termos aprendido muito de sua vida na floresta e sua medicina, ganhamos a herança da energia da destruição.

Em lugar de seu milenar sistema de trocas, o nosso sistema de lucros a qualquer custo. Em vez de sua vida coletiva, numa sociedade que protege seus elementos, oferecemos a vida isolada, competitiva, barulhenta, individualista do sistema social e econômico em que escolhemos viver (por decisão ou por ignorância).

Não há o que comemorar. No mínimo deveríamos lembrar, reverenciar, proteger o que resta de seu povo.

E eu, que procuro ser um cidadão consciente deste todo de que os índios deveriam ser parte essencial, pela sua sabedoria e beleza, simplesmente esqueci.

Devo ter herdado dos meus ancestrais uma defesa na minha memória, para conviver com uma história que alguns ainda chamam de "cordial": um país escravocrata durante séculos; que dizimou a quase totalidade de seus índios - e que continua dizimando ao tomar-lhes as terras ou não lhes dando assistência; um país que passa por ditaduras como se fosse um passeio pelo poder, sem qualquer explicação à história; um país que começou a ser corrupto com a primeira caravela.

Em vez de uma consciência histórica participativa, herdamos a nossa história como se fosse um samba-enredo, por onde desfilam mentiras e meias-verdades.

Amamos este país, lindo e miscigenado. Mas é um amor tão alienado da própria história, ainda tão descomprometido com uma participação da maioria de nós, tão indiferente à sua natureza, que um dia pode sucumbir sob o peso da destruição de seu território e de sua cultura.

Rio, 19.04.2012

Publico, com um dia de atraso,  o sincero e consciente texto do Aldo Cordeiro, também me penitenciando pelo esquecimento. 

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Funeral Blues - W.H. Auden

 













O poema Funeral Blues é o mais famoso da extensa obra de W.H. Auden e se tornou mundialmente conhecido devido ao filme Quatro Casamentos e um Funeral (assista ao vídeo), onde é recitado.

Embora tenha sido primeiramente publicado na peça The Ascent of F6 em 1937, quando contava então com cinco estrofes, aparentemente parodiando o desaparecimento de um líder político, a versão definitiva de Funeral Blues foi publicada tão somente em 1938, quando Auden o reduziu às famosas quatro estrofes.

Sua versão final foi escrita para ser cantada pelo soprano Hedli Anderson, daí o título.

O poema, então, passou a ser utilizado para exprimir um sentimento forte de perda e de luto, como nas duas seguintes ocasiões:

- num momento pungente do filme Quatro casamentos e um funeral, o poema é lido por Mattew em homenagem ao seu companheiro morto;

- o poema se encontra também no memorial do estádio belga de Heysel Park, em homenagem às 39 vítimas de uma partida de futebol entre o Liverpool e a Juventus, em Maio de 1985;

Abaixo do poema original, posto duas versões traduzidas para o Português: a primeira, recebida de uma amiga, segue uma tradução mais objetiva e a segunda versão, que encontrei no site Releituras, é apresentada mais subjetivamente, procurando obedecer as rimas em nossa língua.

Funeral Blues

Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.

Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message He is Dead.
Put crepe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last forever: I was wrong.

The stars are not wanted now; put out every one,
Pack up the moon and dismantle the sun,
Pour away the ocean and sweep up the woods
For nothing now can ever come to any good.


Funeral Blues

Parem todos os relógios, desliguem o telefone,
Evitem o latido do cachorro com seu osso suculento,
Silenciem os pianos e com tambores lentos
Tragam o caixão, deixem que o luto chore.

Deixem que os aviões voem em círculos altos
Riscando no céu a mensagem Ele Está Morto,
Ponham gravatas beges no pescoço dos pombos brancos do chão,
Deixem que os guardas de trânsito usem luvas pretas de algodão.

Ele era meu Norte, meu Sul, meu Leste e Oeste,
Minha semana útil e meu domingo inerte,
Meu meio-dia, minha meia-noite, minha canção, meu papo,
Achei que o amor fosse para sempre: Eu estava errado.

As estrelas não são necessárias: retirem cada uma delas;
Empacotem a lua e façam o sol desmanchar;
Esvaziem o oceano e varram as florestas;
Pois nada no momento pode algum bem causar.


Blues Fúnebres

Que parem os relógios, cale o telefone,
jogue-se ao cão um osso e que não ladre mais,
que emudeça o piano e que o tambor sancione
a vinda do caixão com seu cortejo atrás.

Que os aviões, gemendo acima em alvoroço,
escrevam contra o céu o anúncio: ele morreu.
Que as pombas guardem luto — um laço no pescoço —
e os guardas usem finas luvas cor-de-breu.

Era meu norte, sul, meu leste, oeste, enquanto
viveu, meus dias úteis, meu fim-de-semana,
meu meio-dia, meia-noite, fala e canto;
quem julgue o amor eterno, como eu fiz, se engana.

É hora de apagar estrelas — são molestas —
guardar a lua, desmontar o sol brilhante,
de despejar o mar, jogar fora as florestas,
pois nada mais há de dar certo doravante.

Fontes:
Wikipedia
Youtube
Releituras