domingo, 22 de março de 2009

Ceres Marylise




Reencontro

Não deixem eu calar minha saudade agora;
busquei o mundo, passei muito tempo fora.
Ponham copos nesta mesa abandonada,
onde jogamos cartas e destinos.

Não abram as janelas já tão carcomidas
pelo tempo passado, pó da vida,
nesta casa que gentil nos abrigou
em algazarras e momentos distraídos.

As gavetas devem estar abarrotadas
de tanta coisa inútil e empoeirada:
poemas murchos, flores ressecadas,
entristecidos à espera de algum gesto.

Não acendam a luz, meus pés conhecem,
os vícios dos degraus, os corredores,
as portas que abrem sempre suas asas
aos quartos amplos e acolhedores.

Ouço risos de crianças pela sala
a deslizar no já gasto corrimão
sobre colchões das camas retirados,
sempre correndo em busca de emoção.

Nas paredes há sombras que estremecem
com o bater dos corações, velhos rumores,
que preencheram um dia minha infância
e me mostraram um mundo de bonança.

Quero sentar-me no colo da mamãe,
adormecer com histórias do papai,
e despertar ao som dos passarinhos
que trinavam saltitantes nos beirais.

Agora parto, saciada de fantasmas:
são eles que abrem a porta do jardim
e ternamente beijam minhas faces.
Já vou, já vou! Só vim saber de mim.

Ceres Marylise ©
Itabuna (BA) - Brasil

Publicada em:
www.rodadeleitura.com
www.recantodasletras.com.br

Um comentário:

Sandra Lúcia Ceccon Perazzo disse...

Ceres menina poeta que tanto admiro, que belo poema!
Reencontro no Scenarium, nos leva longe e nessa viagem as lembranças nos agasalham, pena que temos que voltar...
Lindo, lindo, lindo!!!
Obrigada Marise menina, por essa atualização que renovou minha alma.
Beijos meninas
Sanzinha