quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Jorge de Lima



Mulher proletária

Mulher proletária — única fábrica
que o operário tem, (fabrica filhos)
tu
na tua superprodução de máquina humana
forneces anjos para o Senhor Jesus,
forneces braços para o senhor burguês.

Mulher proletária,
o operário, teu proprietário
há de ver, há de ver:
a tua produção,
a tua superprodução,
ao contrário das máquinas burguesas
salvar o teu proprietário.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Meio-Dia em Paris



Viajar para o continente europeu é almejar se encantar com a beleza artística que vem a reboque da História. Beleza contada num detalhe do entalhe que ornamenta uma igreja, um museu, um castelo ou as mais antigas moradias de uma cidade. É desvendar diferenças nos estilos e identificar o movimento cultural em que eles se enquadram. Ver-se como uma inspiração do pintor, do escultor, de um poeta ou de um escritor. Para mim, a Europa é o lugar onde me desapego da modernidade, esqueço obrigações e renasço num passado que em outra encarnação sinto que já pisei. E, se na Europa, independente do país ou da cidade, eu me sinto assim, quem me conhece sabe que em Paris, então, eu estou em casa.

Não, não pensem que é esnobismo! Eu digo que estou em casa, porque tenho a impressão que vivi ali em outras eras. Reservo sempre para o final das minhas viagens à Europa uma estada em Paris. É a cereja do bolo que saboreio, deixando no meu percurso o desejo de um breve retorno àquela encantadora cidade.

Mas Paris mudou. Ou será que fui eu que mudei?... Fiquei um tempo sem visitar a minha segunda cidade em preferência – o Rio de Janeiro é a primeiríssima - e já não a reconheci mais.

Paris estava transbordando de gente num mês em que a cidade não costuma lotar. Sabe-se que é a cidade mais visitada do mundo, mas a impressão que eu tinha era a de que todos resolveram ir pra lá, na mesma época. Uma verdadeira babel de idiomas!

Se encontrar uma cidade cheia incomoda, imagine ainda você se deparar com uma cidade amedrontada? E Paris está assim. Sofrendo com a imigração ilegal, aliada à crise que está assolando o continente europeu, a cidade viu aumentar a incidência de golpes em pessoas incautas. Não se vê mais o glamour que recendia da capital francesa. A realidade crua fica estampada na fisionomia desconfiada dos parisienses, quando interceptados para se pedir uma singela informação. Lá, não é comum violências com armas, mas apenas furtos, e para os residentes e, principalmente, para os turistas, fica aquele gosto amargo de que a qualquer momento você pode se tornar uma vítima.

É claro que estes não são motivos para que eu deixe de amar a cidade luz, entretanto, senti necessidade de fazer como Gil, o personagem vivido por Owen Wilson, no filme Meia-Noite em Paris, de Woody Allen. Já que à noite todos os gatos são pardos, ao meio-dia me vi postada nas escadarias da Igreja Saint-Étienne-Du-Mont, esperando a passagem do mesmo carro antigo, que me transportaria de volta àquela Paris que me conquistou.

Amigos, estou retomando as postagens do blog e aproveito para agradecer àqueles que se tornaram seguidores, durante o período de minhas férias.