sábado, 27 de novembro de 2010

Paz ao meu Rio de Janeiro

Aproveito o emocionante vídeo de lançamento da campanha Carinho de Verdade, do SESI, contra a exploração sexual de menores, para rogar pela paz na minha Cidade Maravilhosa.
Não se esqueça de dar pausa na play list musical do blog.
Caso você queira saber mais sobre a campanha, clique aqui.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Angela Lara



Bordado

Hoje tenho falhas na alma
nos dentes
na memória
Todos em falsetes
felizes e sorridentes
por terem me trazido até aqui

Hoje tenho marcas
que nem poderia dizer
são fundas
são frias
me ajudam a entender
que o amor é difícil
o amor é pra quem quer receber

Tenho marcas que nenhuma
mão consegue apagar

todas desenhadas com alegria
bordadas em renda fina
e rasgadas ao amanhecer
Tenho um cio que confunde a alma
transcende a calma
e me impede de morrer...

© Angela Lara
Porto Alegre (RS) – Brasil


Conheça a sensibilidade de Angela Lara, visitando–a em sua página no Recanto das Letras.

sábado, 20 de novembro de 2010

Ceres Marylise



Memória Genética
(Uma história verídica)

De portas, janelas, varandas enormes,
um tal casarão, de cômodos tantos,
propõe-me um pungente e triste encontro
com o que fui um dia, também ser humano,
mas traste inútil, nos tempos de antanho.

Num quarto imenso, lúgubre, escuro,
do fundo da casa, perto dos currais,
estão sepultados os mortos no tronco,
os negros escravos, pobres, indefesos,
tão brutalizados quanto os animais.

Próximo à cozinha, meio apodrecido,
ainda resiste um tronco com argolas:
grosso pelourinho, cravado no chão
de terra batida do que foi senzala,
guarida de escravos, nos idos de outrora.

Por longos instantes, ali eu reflito
e escuto os lamentos dos meus ancestrais:
vieram de longe arrastando negros,
arrastando índios, arrastando brancos;
genes milenares - trago os seus sinais.

No silêncio do tempo, com voz alquebrada,
ressoa mais forte, aquela mais triste...
delata a presença de todo um passado
de dor, inclemência, cruel, desumano
- do negro que sofre e ainda resiste.

Quantas espadas perfuraram os seus peitos?
Quantos braseiros queimaram seus corpos sãos?
Quantos chicotes rasgaram corpos inteiros?
Quanto sangue jorrou forte e indefeso,
enriquecendo aos senhores e às nações?

Inconformada, infeliz, rio como louca...
e parece que ouço o zunir dos chicotes,
o arrastar de correntes e infinitas dores,
presentes na alma, na carne e no sangue
- memória genética: escrava e senhora!

© Ceres Marylise

Nota da autora: O casarão colonial que se vê no filme ABRIL DESPEDAÇADO, com o ator Rodrigo Santoro, fez parte de minhas adolescência e juventude. A fazenda Santa Bárbara, município de Caetité-BA, foi do Barão de Caetité e com sucessivas posses, chegou a ser parte de minha herança. Hoje, ela é tombada pelo Patrimônio Histórico.

No Dia da Consciência Negra, o Scenarium presta uma homenagem àqueles que, mesmo espoliados, ajudaram a construir o nosso País. Os negros, trazidos da África como escravos, contribuíram na formação da cultura nacional. Além de ser um dia em homenagem à cultura afro-brasileira, é um dia de reflexão, para que construamos uma sociedade mais justa, com oportunidades e direitos iguais a todos.
Agradeço à Poeta Ceres Marylise e à artista e formatadora Denise Moura por autorizarem a publicação de suas criações.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Daysi Duarte



Perdoa...

Perdoa se te amei tão docemente
Que nem mesmo de amor eu te falei.
Na memória te fiz sempre presente
De tal forma que sempre te lembrei.

Perdoa se te amei tão mansamente
Que chegaste a pensar que não te amei.
Foi manso o meu amor, mas foi ardente,
De tal forma que aos poucos me abrasei.

Perdoa se te amei tão loucamente,
E tanto amor aos olhos te ocultei.
Perdoa se te fiz sempre presente
À memória e aos olhos, vivamente,
...E brandamente me afastei.

© Daisy Duarte
Visite Daysi em Sonhos e Saudade

Imagem: Designs by Daiva

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Elvis Presley e Martina McBride



Em 2008, quarenta anos depois da gravação original de Blue Christmas, na interpretação de Elvis Presley, a tecnologia uniu, no mesmo palco, Elvis e Martina McBride.

A entrada em cena de Martina, a reação do público, a sincronia do dueto e até a olhada dos dois, ao final do show, fazem desta montagem um espetáculo maravilhoso.

É só clicar na imagem dos dois e se transportar a 1968 ou, se preferir, a 2008. Depois é só clicar aqui, para saber como tudo foi feito.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Marise Ribeiro - Aviso das Bruxas?



Aviso das Bruxas?

October 31 – dia em que se comemora o Halloween, nos EUA, tradição cultural que nosso país tenta importar e eu me pergunto sempre: Por quê?

Encontrava-me em Manhattan, um dos distritos da cidade de Nova Iorque, no dia 31 deste ano e, por motivos alheios à minha vontade, em vez de participar da nossa festa democrática no 2º turno do pleito eleitoral, aproveitei o “exílio”, para entender o que representa o tão badalado Dia das Bruxas norte-americano.

Estive em Nova Iorque em outras oportunidades, mas nenhuma delas no dia dessa celebração.

No final da semana anterior, havia estado na Filadélfia, Pensilvânia, visitando minha irmã e meu cunhado, residentes daquela cidade. Vi alguns jardins ornamentados com abóboras, fantasminhas feitos com panos brancos ou com sacos de lixo pretos, teias industrializadas que mais pareciam algodões desfiados e alguns espantalhos. Entretanto, bem menos residências enfeitadas do que a quantidade criada pela minha expectativa. Casas assim significam portas abertas à distribuição de guloseimas.
Lá, segundo minha irmã, a data é festejada pelas crianças e pelos jovens que, fantasiados ou mascarados, batem apenas nessas casas assinaladas pelos enfeites. Afora a parte decorativa em imóveis e pessoas, é o nosso Dia de São Cosme e Damião.

Na ilha já é um pouco diferente. Em caminhadas pelas ruas nova-iorquinas, inclusive as residenciais, percebi que a decoração se concentra mais em abóboras nas calçadas do que nas casas. Crianças e adultos se fantasiam desde a véspera e vivem o seu cotidiano desse modo, com vestimentas engraçadas, exóticas ou apenas com adereços na cabeça. Trabalham, vão às compras, aos restaurantes..., como se aquelas roupas fossem casuais ou formais.

Para minha surpresa, não me deparei com monstros, bruxas, fantasmas, ou qualquer outra alusão ao terror, nas ruas da grande maçã. Cruzei com vários marios bros, alices, gatinhos, enfermeiras, abelhinhas, dinossauros, fadas, anjinhos, elvis e adereços singelos na cabeça. Resumindo: é um Carnaval pra lá de sem graça!

Uma das origens do Halloween é a de se comemorar o final do verão, porém, nessa data, o Hemisfério Norte já se encontra há um mês e 10 dias, inserido em pleno Outono. E, pra não dizer que não falei de folhas, ressalto o fascínio que me causa o colorido daquela estação lá, na real simbologia da renovação.

Naquela noite de 31 de Outubro, a uma temperatura de 6º C, fazendo um trajeto turístico que gosto de relembrar, subindo a Broadway, cruzando a 59 - rua do Central Park -, para depois descer a Quinta Avenida, voei como uma folha seca, ao sabor do vento gélido, e fui parar no chão. Levantei-me, sacudi a poeira, fiz cara de paisagem primaveril e continuei minha caminhada.

Nenhum sinal de buracos, degraus ou algo que acusasse o desequilíbrio. Será que já estou também no meu outono, despencando silenciosamente, ou teria sido um aviso das bruxas, por não haver apreciado o seu dia?...
Imagem: Bushkill Falls - Pensilvânia
Amigos, estou de volta e espero por vocês.