domingo, 26 de junho de 2011

Anna Müller



Término

Todas as flores morreram;
a terra já não é fértil,
as águas já não são límpidas,
já não se ouve o gorjeio dos pássaros.
O sol já perdeu seu calor,
deu-se adeus ao arco-íris!
As folhas amareladas
caem sufocantes pelo chão;
nem mais as lágrimas orvalhadas
escorrem nas manhãs de primavera.
Já não há primaveras,
esgotaram-se os verões,
foi o último outono
que trouxe o inverno eterno.
O vento já não faz brisa;
roça gélido na pele,
pintando de branco
o sangue impuro dos mortais.
A vida já não tem mais
a mesma alegria da infância;
ela açoita os últimos momentos
e sangra silenciosa
o grito de desespero...
Não há mais esperança.
O gelo sobre a pedra
começa a marcar o fim
de um tempo que não
é possível retroceder.
Os montes verdejantes agora são
cascalhos duros e sem vida.
Tudo em volta está se acabando;
o mar, antes bravejante,
agora é manso e silencioso,
negro como as profundezas.
Os rios perderam suas forças,
apenas correm para morrer no mar,
misturam-se...E morrem.
Nada tem mais sentido;
nada mais tem valor.
A chuva queima feito ácido,
todas as cores em branco e preto.
Como um quadro queimado
a vida acaba em cinzas.
Um sopro...
me torno inexistente.

© Anna Müller
Roraima (RR) - Brasil
RR, 23/06/2011

Para ouvir este poema interpretado pela autora, clique aqui, mas antes disso não se esqueça de dar pausa na playlist musical do blog.


Não deixe de visitar a sensibilidade de Anna Müller no Canto da Poesia.

domingo, 19 de junho de 2011

Elane Tomich



Lá...

Lá é tão longe do mundo,
onde acaba o arrepio,
a quina do meio-fio,
espírito do olhar mais fundo.

onde no abismo caio,
o final do latifúndio
em tanto chão de saudade.

Primeira gota do rio,
o medo do poço fundo
de onde o vento é oriundo,
meia-volta de desvios.

muito além da saciedade
vontade em eterno gerúndio
onde, de amor, desmaio.

© Elane Tomich
Teófilo Otoni (MG) – Brasil

Conheça mais poemas da autora no Recanto das Letras.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Patativa do Assaré



Aposentadoria de Mané do Riachão

Seu moço, fique ciente
De tudo que eu vou contar,
Sou um pobre penitente
Nasci no dia do azá,
Por capricho eu vim ao mundo
Perto de um riacho fundo
No mais feio grutião
E como ali fui nascido,
Fiquei sendo conhecido
Por Mané do Riachão.

Passei a vida penando
No mais crué padecê,
Como tratô trabaiando
Pru filizardo comê,
A minha sorte é trucida
Pá miorar minha vida
Já Rezei e fiz premessa
Mas isso tudo é tolice,
Uma cigana me disse
Que eu nasci foi de trevessa.

Sofrendo grande cancêra
Virei bola de biá
Trabaiano na carrêra
Daqui pra ali pra culá
Fui um eterno criado
Sempre fazendo mandado
Ajudando aos home rico,
Eu andei de grau em grau
Taliquá o pica-pau
Caçando broca em angico.

Sempre entrano pelo cano
E sem podê trabaiá,
Com sessenta e sete ano
Percurei me aposentar,
Fui batê lá no iscritoro
Depois eu fui no cartoro
Porém de nada valeu,
Veja o que foi , cidadão,
Que aquele tabelião
Achou de falar prá eu.

Me disse aquele escrivão
Frangino o côro da testa:
- Seu Mané do Riachão
Esses seus papé não presta,
Isto aqui não vale nada,
Quem fez esta papelada
Era um cara vagabundo,
Prá fazê seu apusento
Tem que trazê decumento
Lá do começo do mundo.

E me disse que só dava
Prá fazê meu aposento
Com coisa que eu só achava
No antigo Testamento,
Eu que tava prazentêro
Mode recebê o dinhêro
Me disse aquele iscrivão
Que precisava do nome
E tombém do subrenome
De Eva e seu marido Adão.

E além da Identidade
De Eva e seu marido Adão
Nome da niversidade
Onde estudou Salomão
E outras coisa custosa,
Bem custosa e cabulosa
Que neste mundo revela
A escritura sagrada
Quatro dedo da quêxada
Que Sanção brigou com ela.

Com a manobra e mais manobra
Prá puder me aposentar,
Levá o nome da cobra
Que mandou Eva pecar
E além de tanto fuxico,
O registro e currico
De Nabucodonosô,
Dizê onde ele morreu,
Onde foi que ele nasceu
E aonde se batizô.

Veja moço, que novela,
Veja que grande caipora
A pior de todas elas
O senhô vai vê agora,
Pra que eu me aposentasse,
Disse que tombém levasse
Terra de cada cratera
Dos vulcão dos istrangero
E o nome do vaquêro
Que amançou a besta fera.

Escutei achando ruim
Com a paciência fraca
E ele olhando prá mim
Com os olhos de jaraca
Disse a coisa aqui é braba
Precisa que você saba
Que sou iscrivão
Ou estas coisa apresenta
Ou você não se aposenta
Seu Mané do Riachão

Veja moço, o grande horrô
Sei que vou morrer depressa
Bem que a cigana falou
Que eu nasci foi de trevessa
Cheio de necessidade
Vou viver da caridade
Uma esmola cidadão
Lhe peço no santo nome
Não deixe morre de fome
O Mané do Riachão

Antonio Gonçalves da Silva
© Patativa do Assaré
Ceará (CE) – Brasil

Para vocês apreciarem um pouco mais a poesia de Patativa do Assaré ou saberem mais sobre a vida e a obra do poeta, visitem os itens abaixo:

- trailer do filme “Patativa do Assaré – Ave Poesia”, de Rosemberg Cariry

- vídeo sobre a trajetória do poeta, feito por Giselle Franca Bernard

- Vaca Estrela e Boi Fubá – de Fagner e Patativa do Assaré

- Sina - de Fagner, Ricardo Bezerra e Patativa do Assaré

sábado, 11 de junho de 2011

Antonieta Elias Manzieri




Sem Vaidades...

Quando chegar a hora da partida,
não levarei bagagem.
Será longa a caminhada.
Para que carregar mais peso?

Não precisarei de mais nada!
Tudo quanto eu possa levar
não será de utilidade,
seriam apenas vaidades
que não terei onde usar.

Nada de material ou supérfluo,
tudo ficará para trás...
Levarei, sim, outros valores,
que não farão nenhum peso,
mas irão acrescentar!

Seguirei tão leve...

Levarei o carinho de quem me amou,
que também amei e sempre amarei!
Levarei a ternura dos amigos queridos
e também muitas saudades...

Comigo irá a certeza que terei deixado
para quem fica o meu maior legado:
minha grande amizade
e o meu amor a eles dedicado.

Deixarei meus versos
para que se lembrem de mim,
quando um dia eu me chamar...
"Saudade”.

(Protegido pela lei dos direitos autorais n° 9610/98).

©Antonieta Elias Manzieri
São Paulo (SP) – Brasil

Você não só se chamará “saudade”, mas também “poesia”.
Esta postagem é uma singela homenagem à querida Anny, que nos deixou nesta data, mas estará sempre presente através de suas letras poéticas.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Lisete Johnson



¿Dónde andan los quijotes?

Mi tierra no es La Mancha
y ni tampoco, Toboso.
Es un país verde amarillo,
muy lejos de los castillos,
muy cerca de los tramposos.

Quisiera que fuese ardiente,
con valles ensolarados,
con Quijotes muy valientes
y con Sanchos muy gallardos.

Que soñar fuese posible,
que no hubiese el hambre
y el monstruo más terrible
fuese molinos de viento,
girando veloz contra el tiempo
sin dejar herida alguna.

Quisiera que los caminos
de todos nobles Quijotes,
caballeros sin destinos,
llevasen a una aldea
donde hubiese Dulcineas
con generosos escotes.

Quisiera que las doncellas
si encantasen por hidalgos
sin plata, pero garbosos
de honor y de buenas ganas
de cambiar el mundo en rosas
mismo que con mente insana.

Que en esta tierra amada,
con falta de Don Quijotes,
venciendo todos peligros,
trayendo consigo el mote;
"Hombre de Triste Figura",
en vez de palabras duras
Sólo hazañas valerosas.

Quisiera que, como él,
hubiese aquí caballeros
enderezando los tuertos,
y deshaciendo agravios,
y repartiendo repuestos
con todos sus compañeros.

Que in my país, cuyo mar,
sólo trae pescados buenos,
llenase los platos del pobre,
que sólo mastica su hambre
y llena de viento su panza
sin perder la esperanza
de tener pez e fiambres.

Que fuese apenas locura
la mirada de los niños,
que viven bajo los puentes,
luchando sin armaduras
y sin ningún Rocinante.

Que hubiese mesa y mantel
con mucho pan y esperanza
pues el dolor más cruel,
ya decía Sancho Panza,
con panes son más pequeñas.

Que los rocinantes de aquí
ganasen pan y cariño
para si aguantar en el trote
de las trillas con espinos
por donde todos Quijotes
buscan siempre sus caminos.

Que en mi país solamente
el seso se perdiese así;
enanos contra gigantes,
escuderos sin su amos
y todos los Rocinantes
cabalgando las estrellas.

Poesia vencedora no concurso promovido pelo Colégio Cervantes e pela Embaixada da Espanha, em 2005, por ocasião da comemoração aos 400 anos do lançamento da obra “Dom Quixote de La Mancha”