domingo, 11 de novembro de 2012

Odete Ronchi Baltazar






















O Vestido

Não era de organza,
nem de seda pura,
tampouco de voile.
Não tinha trama elegante
nem bordado atraente.
Era azul clarinho do céu e,
mais que tudo, era meu!
Quando o vestia criava asas,
pisava em nuvens,
desfilava sonhos,
sonhava passarelas,
olhares, cochichos
e outros bichos.
Exibia o andar,
gostava de estar.
Mal sabia a menina,
que a fantasia,
quem vestia era eu.


© odeteronchibaltazar 
Florianópolis (SC) - Brasil

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quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Sarah Brightman e Antonio Banderas














Um tributo musical para o famoso compositor Andrew Lloyd Webber, em comemoração ao seu 50º aniversário. Foram apresentadas canções de todos os seus grandes musicais, incluindo Cats, Sunset Boulevard, Jesus Christ Superstar e o Fantasma da Ópera.  A celebração foi composta por estrelas de suas produções cinematográficas e teatrais, e aconteceu no Royal Albert Hall, em 1998. Apreciem um belo encontro musical de uma das canções de O Fantasma da Ópera.  É só clicar na imagem.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Manoel de Barros














Para conhecer um pouco da vida do Poeta Manoel de Barros, basta ler sua obra.  Em seus textos, o Poeta deposita sua história, experiências vividas e uma sensibilidade ímpar, principalmente quando versa sobre a sua relação com a natureza.
 
O tema da infância, também tão caro ao poeta, tem a ver não só com os anos iniciais de sua vida, mas com o sentimento de infância que carrega até hoje e que quer transmitir ao leitor pela poesia.  Muito do que se sabe sobre a pessoa Manoel de Barros vem de entrevistas concedidas, geralmente, por escrito. Suas respostas, com muita frequência, são trechos de seus escritos.

Manoel de Barros que, segundo o professor e poeta Gilberto Mendonça Teles, "entrou em 1937 e, através de vários livros, chega a uma das belas linguagens poéticas da atualidade", escreve sua obra a lápis em vários caderninhos, sempre no seu "lugar de ser inútil", como ele próprio diz.

Retornando das férias, o Scenarium destaca uma pequena mostra da obra e de alguns trechos de entrevistas deste poeta que encanta pela profundidade dentro da simplicidade de suas letras.

Auto-Retrato Falado

Venho de um Cuiabá garimpo e de ruelas entortadas.
Meu pai teve uma venda de bananas no Beco

da Marinha, onde nasci.
Me criei no Pantanal de Corumbá, entre bichos do
chão, pessoas humildes, aves, árvores e rios.
Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de
estar entre pedras e lagartos.
Fazer o desprezível ser prezado é coisa que me apraz.
Já publiquei 10 livros de poesia; ao publicá-los me
sinto como que desonrado e fujo para o
Pantanal onde sou abençoado a garças.
Me procurei a vida inteira e não me achei – pelo
que fui salvo.
Descobri que todos os caminhos levam à ignorância.
Não fui para a sarjeta porque herdei uma fazenda de
gado. Os bois me recriam.
Agora eu sou tão ocaso!
Estou na categoria de sofrer do moral, porque só
faço coisas inúteis.
No meu morrer tem uma dor de árvore.

(De O Livro das Ignorãças) 

"Eu sou dois seres.
O primeiro é fruto do amor de João e Alice.
O segundo é letral:
É fruto de uma natureza que pensa por imagens,
Como diria Paul Valéry.
O primeiro está aqui de unha, roupa, chapéu
e vaidades.
O segundo está aqui em letras, sílabas, vaidades
frases.
E aceitamos que você empregue o seu amor em nós."


 

Uma didática da invenção

(Parte VI)
No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá, onde a criança diz:
eu escuto a cor dos passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não
Funciona para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um verbo, ele delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta,
que é a voz
De fazer nascimentos -
O verbo tem que pegar delírio.
(De "O Livro das Ignorãças" - 1993)


 

A Arte de Infantilizar Formigas

Depois de ter entrado para rã, para árvore, para pedra
- meu avô começou a dar germínios
Queria ter filhos com uma árvore.
Sonhava de pegar um casal de lobisomem para ir
vender na cidade.
Meu avô ampliava a solidão.
No fim da tarde, nossa mãe aparecia nos fundos do
quintal : Meus filhos, o dia já envelheceu, entrem pra
dentro.
Um lagarto atravessou meu olho e entrou para o mato.
Se diz que o lagarto entrou nas folhas, que folhou.
Aí a nossa mãe deu entidade pessoal ao dia.
Ela deu ser ao dia,
e Ele envelheceu como um homem envelhece.
Talvez fosse a maneira
Que a mãe encontrou para aumentar
as pessoas daquele lugar
que era lacuna de gente.
(De "Livro sobre nada" - 1996)


Canção do Ver 

(Parte 1)
Por viver muitos anos
dentro do mato
Moda ave
O menino pegou
um olhar de pássaro -
Contraiu visão fontana.
Por forma que ele enxergava
as coisas
Por igual
como os pássaros enxergam.
As coisas todas inominadas.
Água não era ainda a palavra água.
Pedra não era ainda a palavra pedra. E tal.
As palavras eram livres de gramáticas e
Podiam ficar em qualquer posição.
Por forma que o menino podia inaugurar.
Podia dar as pedras costumes de flor.
Podia dar ao canto formato de sol.
E, se quisesse caber em um abelha, era só abrir a palavra abelha
e entrar dentro dela.
Como se fosse infância da língua.
(De "Poemas Rupestres")



O olhar


Ele era um andarilho.
Ele tinha um olhar cheio de sol
de águas
de árvores
de aves.
Ao passar pela Aldeia
Ele sempre me pareceu a liberdade em trapos.
O silêncio honrava a sua vida.



O menino que carregava água na peneira
 
Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.


A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e sair
correndo com ele para mostrar aos irmãos.


A mãe disse que era o mesmo que
catar espinhos na água.
O mesmo que criar peixes no bolso.


O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.


A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio
do que do cheio.
Falava que vazios são maiores
e até infinitos.


Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira.


Com o tempo descobriu que escrever seria
o mesmo que carregar água na peneira.


No escrever o menino viu
que era capaz de ser
noviça, monge ou mendigo
ao mesmo tempo.


O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.


Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.

o menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.


A mãe falou:
Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os
vazios com as suas
peraltagens
e algumas pessoas
vão te amar por seus
despropósitos.



"Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água, pedra, sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos,
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios."
 
 
"A maior riqueza do homem é sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não
aceito.
Não aguento ser apenas um sujeito que abre
portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que
compra pão às 6 da tarde, que vai lá fora,
que aponta lápis, que vê a uva etc. etc.
Perdoai.
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas."
 
 
“No Tratado das Grandezas do Ínfimo estava
escrito:
poesia é quando a tarde está competente para
dálias.
É quando
ao lado de um pardal o dia dorme antes.
Quando o homem faz sua primeira lagartixa.
É quando um trevo assume a noite
e um sapo engole as auroras.”
 
 
“Para entender nós temos dois caminhos:
[o da sensibilidade que é o entendimento
do corpo;
e o da inteligência que é o entendimento
do espírito.
Eu escrevo com o corpo.
Poesia não é para compreender,
[mas para incorporar.
Entender é parede; procure ser árvore.”
 
 
"Aprendi que o artista não vê apenas. Ele tem visões. A visão vem acompanhada de loucuras, de coisinhas à toa, de fantasias, de peraltagens. Eu vejo pouco. Uso mais ter visões. Nas visões vêm as imagens, todas as transfigurações. O poeta humaniza as coisas, o tempo, o vento. As coisas, como estão no mundo, de tanto vê-las nos dão tédio. Temos que arrumar novos comportamentos para as coisas. E a visão nos socorre desse mesmal."
- em entrevista "caminhando para as origens", a Bosco Martins, Cláudia Trimarco e Douglas Diegues. [Caros Amigos]. 2007.
 
 
"No caminho, as crianças me enriqueceram mais do que Sócrates. Pois minha imaginação não tem estrada. E eu não gosto mesmo de estrada. Gosto de desvio e de desver."
- em carta a José Castello, publicado no Jornal Valor Econômico, em 18 de março de 2012

 
"O tema do poeta é sempre ele mesmo. Ele é um narcisista: expõe o mundo através dele mesmo. (...) O tema da minha poesia sou eu mesmo e eu sou pantaneiro. Então, não é que eu descreva o Pantanal, não sou disso, nem de narrar nada. Mas nasci aqui, fiquei até os oito anos e depois fui estudar. Tenho um lastro da infância, tudo o que a gente é mais tarde vem da infância."
- em entrevista "caminhando para as origens", a Bosco Martins. 2007.
 
"... Meu avô era tomado por leso porque de manhã dava
bom-dia aos sapos, ao sol, às águas.
Só tinha receio de amanhecer normal
Penso que ele era provedor de poesia como as aves
e os lírios do campo."
- em "Ensaios fotográficos", 2000, p. 51.
 
 
"... poesia pra mim é a loucura das palavras, é o delírio verbal, a ressonância das letras e o ilogismo.
Sempre achei que atrás da voz dos poetas moram crianças, bêbados, psicóticos. Sem eles a linguagem
seria mesmal. (...) Prefiro escrever o desanormal."
- em "Ensaios fotográficos", 2000, p. 63.
 
 
"Penso que não tive escolha
Fui escolhido e gostei da escolha
Faço o que sonho
Faço o que gosto
Sou um pouco irresponsável
com os passarinhos, isto seja:
Sou livre
Amo a palavra"
- em entrevista a Luciana Pessanha, especial para "O Globo".
 
 
Frases:
 
"Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas se não desejo contar nada, faço poesia."
 
"Palavras têm espessuras várias: vou-lhes ao nu, ao fóssil, ao ouro que trazem da boca do chão."
 
"Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos."
 
"Sou livre para o silêncio das formas e das cores."
 
“Quem anda no trilho é trem de ferro, sou água que corre entre pedras: liberdade caça jeito.”
 
"Quando as aves falam com as pedras e as rãs com as águas - é de poesia que estão falando."
 
Fontes de Pesquisa: