quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Jorge de Lima



Mulher proletária

Mulher proletária — única fábrica
que o operário tem, (fabrica filhos)
tu
na tua superprodução de máquina humana
forneces anjos para o Senhor Jesus,
forneces braços para o senhor burguês.

Mulher proletária,
o operário, teu proprietário
há de ver, há de ver:
a tua produção,
a tua superprodução,
ao contrário das máquinas burguesas
salvar o teu proprietário.

Um comentário:

Eliane F.C.Lima disse...

Veja só, Marise, trabalhei muito com esse poema em minhas aulas de literatura. Ele segue o programa estético do Modernismo, além do próprio conteúdo social, que, a par de fazer também parte dessa mesma estética, pode ser discutido.
O texto também permite uma boa discussão de gênero - o feminino e o masculino, na sociedade patriarcal. Vê-se que a crítica atinge não só o "senhor burguês", mas "o operário, teu proprietário", reduzida a mulher a ser uma "máquina superprodutora" de filhos.
Acho que a crítica se espraia até a religiosidade dessa mulher tão sofrida, cuja revolta é contida ou embaçada, quase sempre, por essa mesma religiosidade: a recompensa em um outro mundo, após a morte.
Eliane F.C.Lima (blogue "Poema Vivo")