Tem mais de cem livros publicados, no Brasil e em mais 18 países. Ao longo de mais de quarenta anos de carreira, escreveu obras para leitores de todas as idades, incluindo nove romances.
Recebeu inúmeras condecorações por sua produção literária, com destaque para o Prêmio Hans Christian Andersen (o mais importante da literatura infantil), em 2000, e o Prêmio Machado de Assis, pelo conjunto da obra, em 2001. Em 2003, foi eleita para a Academia Brasileira de Letras e, em 2011, tornou-se a segunda mulher na história da instituição a assumir sua presidência.
Destaco, nesta postagem, alguns poemas de seu livro Sinais do Mar, onde as poesias podem ser classificadas em três vertentes: concretas, sensoriais e narrativas.
As concretas são os poemas que citam os seres marinhos como a estrela-do-mar (Estrelas), o siri (Siri), a gaivota (Revoada), o caramujo (Bernardo Eremita), a arraia (Arraia) e a água-viva (Dúvida).
Estrelas
cinco destinos
são areias tontas
de desatinos
Cinco sentidos
cinco caminhos
grãos tão moídos
por mares e moinhos
Estrela-guia
em alto-mar
outra Maria
veio me chamar.
Siri
Siri
não ri
em serviço.
Se troca a casca
vira ouriço
procura concha,
busca uma toca e,
sumiço.
Não dá mole por aí.
Pra não virar sopa
faz boca
de siri.
Dúvida
Água-viva
quando morre
fica sendo
água-morta?
Ou água só?
A segunda vertente se estrutura na evocação sensorial de sons, visões e cheiros ligados ao mar: é o caso de Aquarela, Terral, Salsugem, Maresia, Gala Solar, Facho, Maré Baixa e Farol.
Maré Baixa
Onde anda a onda
se a lua rotunda
se acende redonda
se brilha precisa
na calma tão lisa
da pele do mar?
Em que fenda se finda?
Em que rede se enrreda?
Em que sonda se afunda?
Onde trama sua renda
de espuma tão fina
de puro luar?
Maresia
Brisa na restinga
traz maresia
a onda respinga
a gota suspira
o ar que se inspira.
Nariz abre a asa
narina é casa
de aroma morar.
É o lar que inspira
é o mar que respira.
A terceira é composta de poemas narrativos, Naus e Nós e Primeiro Mar, os dois trabalhos que finalizam a antologia.
Naus e Nós
Naus
saem de Sagres
e deixam infantes,
partem de portos
e deixam mortos,
sangram amores
e rumam ao longe.
Singram
águas salgadas
algas sargaças
a pouco nós.
Lonas e telas
pranchas e cascos
cordas e cabos
rangem e puxam,
fazem e desfazem
nós.
Velas sem vento
almas sem calma
encalham em sargaços
nas águas salgadas.
Algumas naufragam
soçobram em escolhos
só sobram
sem escolha,
sem escolta,
poucas naus
- e nós.
Primeiro Mar
Tantas páginas lidas muito antes
Tantos livros que enchiam as estantes
Tantos heróis a povoar os sonhos
Tantos perigos, monstros tão medonhos
Nos tempos sem tevê e sem imagem
Palavras fabricavam paisagem
Tesouros, mapas, ilhas tropicais,
Argonautas, recifes de corais,
Perigos na neblina entre rochedos,
Vinte mil léguas cheias de segredos.
Histórias de naufrágio e abordagens,
Ulisses, Moby Dick, mil viagens,
Robinson, calmarias, um motim,
Descobertas, veleiros, mar sem fim.
Destaco também um poema que gosto muito e que dá nome a um dos livros de Ana Maria Machado. "Um fio de voz conta pedaços de histórias, muitas delas antigas. Cada noite uma nova, sempre sobre o mesmo tema: são "montes de histórias de mulheres e fiapos, fios e linhas de todo tipo, ponto a ponto se tecendo e virando novas tramas".
Ponto a Ponto
Era uma vez uma voz.
Um fiozinho à-toa.
Fiapo de voz.
Voz de mulher.
Doce e mansa.
De rezar, ninar criança, muitas histórias contar.
De palavras de carinho e frases de consolar.
Por toda e qualquer andança, voz de sempre concordar.
Voz fraca e pequenina.
Voz de quem vive em surdina.
Um fiapo de voz que tinha todo o jeito de não ser ouvido.
Não chegava muito longe.
Ficava só ali mesmo, perto de onde ela vivia.
Um pontinho no mapa
Fontes:
http://www.anamariamachado.com/
http://www.companhiadasletras.com.br/
http://editora.cosacnaify.com.br/
http://www.estadao.com.br/
http://umsaltoparanovasdescobertas.blogspot.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário