quinta-feira, 4 de junho de 2009

Augusto dos Anjos



Mágoas

Quando nasci, num mês de tantas flores,
Todas murcharam, tristes, langorosas,
Tristes fanaram redolentes rosas,
Morreram todas, todas sem olores.

Mais tarde da existência nos verdores
Da infância nunca tive as venturosas
Alegrias que passam bonançosas,
Oh! Minha infância nunca teve flores!

Volvendo à quadra azul da mocidade,
Minh'alma levo aflita à Eternidade,
Quando a morte matar meus dissabores.

Cansado de chorar pelas estradas,
Exausto de pisar mágoas pisadas,
Hoje eu carrego a cruz das minhas dores!

Augusto dos Anjos
(in Eu – 1912)

Um comentário:

Sandra Lúcia Ceccon Perazzo disse...

Meu Deus, como pode fazer tão linda a tristeza.
Parabéns para o grande Poeta Augusto dos Anjos!

Obrigada Marise também por esse momento.
Beijo
Sanzinha