Autorretrato - 1630
“Imaginem o período que vai de 1593 a 1653, em que o conhecimento do mundo ainda é limitado, o Papa tem poder absoluto e as mulheres não têm vez, nem voz. Foi quando viveu Artemísia, iniciada na arte da pintura pelo pai, Orazio Gentileschi.
Nascida em Roma em 1593, Artemísia Gentileschi é influenciada pela técnica claro/escuro que seu pai dominava com muito talento, aproximando-se muito da linha artística de Caravaggio, grande nome da pintura barroca.
Depois de receber os primeiros ensinamentos do seu pai e ante a impossibilidade de frequentar a Academia, seu pai entrega Artemísia aos cuidados do amigo e colaborador Agostino Tassi, que se torna seu professor de pintura. A jovem pintora fica, então, à mercê da cobiça de Tassi que a estupra, quando ela estava com 17 anos. Orazio leva o amigo aos tribunais, mas acaba por expor a filha de modo ultrajante à corte, à igreja e ao povo, frustrando, assim, seu futuro.
Sabe-se hoje que Tassi acabou por ser condenado a um exílio de Roma por um período de cinco anos. Este exílio durou apenas quatro meses, graças às influências que ele soube aplicar.
A obra de Artemísia passa, então, a refletir esse desejo de vingança. Humilhada, chamada de “Puttana” pelas ruas, ela quer lutar pela sua inocência, mostrar aos homens sua capacidade de pensar e, assim, retrata personagens bíblicos como Judith e Holofernes em cenas sangrentas, em que Judith aparece como mulher determinada, cumprindo uma missão justiceira. Neste quadro, o general assírio Holofernes é decapitado por Judith, que assim libertou o seu povo (judeu) do jugo dos pagãos. Judith é quase um auto-retrato da própria Artemísia: forte, vingadora e convicta. A degolação pode simbolizar a castração que ela certamente queria infligir ao seu abusador.
Os quadros retratando Judith chocaram alguns de seus admiradores, tal a violência que expressavam. Estão entre os melhores da artista e podem ser considerados uma catarse.
Artemísia casou-se por conveniência com o pintor Pietro Antonio di Vicenzo Stiattesi e se mudou para Florença, onde pensava que seu passado não seria lembrado. Ela não se reprimiu como mulher, amou o marido, foi amada por ele, teve a filha Palmira Prudenzia, cumpriu seus deveres de mãe, mas nunca desistiu de ser reconhecida como pintora e dona da própria vida. Batalhou muito para conseguir abrir portas antes fechadas às mulheres, tendo sido admitida na exclusiva Academia de Desenho de Florença, onde mulher até então só entrava como modelo.
Artemísia conheceu os poderosos de Florença, como os Médici, foi amiga de Galileu, pintou para nobres de várias cidades. O silêncio que paira sobre ela talvez esteja encoberto pelo silêncio que ocultou durante anos outras grandes mulheres artistas. Não se sabe se ela perdoou o pai pelo julgamento a que foi submetida quando jovem. Seus quadros revelam, apenas, que Artemísia finalmente encontrou a paz.
Anos depois, superou o desejo de vingança sem abandonar os temas bíblicos e o apelo dramático característico de sua pintura. Acabou virando uma espécie de heroína contra o abuso do poder masculino e a favor da superação da mulher.”
Podemos encontrar as obras de Artemísia numa rápida pesquisa ao Google, mas clicando aqui vocês apreciarão vinte criações dessa magnífica artista.
Eu recomendo, ainda, a leitura do excelente estudo feito pela poeta e ensaísta Maria das Vitórias de Lima Rocha, postado no site da artista plástica Lena Gal.
Fontes:
Livro A Paixão de Artemísia, de Susan Vreeland, em artigo comentado por Bety Orsini
Old Master New Perspectives
Nascida em Roma em 1593, Artemísia Gentileschi é influenciada pela técnica claro/escuro que seu pai dominava com muito talento, aproximando-se muito da linha artística de Caravaggio, grande nome da pintura barroca.
Depois de receber os primeiros ensinamentos do seu pai e ante a impossibilidade de frequentar a Academia, seu pai entrega Artemísia aos cuidados do amigo e colaborador Agostino Tassi, que se torna seu professor de pintura. A jovem pintora fica, então, à mercê da cobiça de Tassi que a estupra, quando ela estava com 17 anos. Orazio leva o amigo aos tribunais, mas acaba por expor a filha de modo ultrajante à corte, à igreja e ao povo, frustrando, assim, seu futuro.
Sabe-se hoje que Tassi acabou por ser condenado a um exílio de Roma por um período de cinco anos. Este exílio durou apenas quatro meses, graças às influências que ele soube aplicar.
A obra de Artemísia passa, então, a refletir esse desejo de vingança. Humilhada, chamada de “Puttana” pelas ruas, ela quer lutar pela sua inocência, mostrar aos homens sua capacidade de pensar e, assim, retrata personagens bíblicos como Judith e Holofernes em cenas sangrentas, em que Judith aparece como mulher determinada, cumprindo uma missão justiceira. Neste quadro, o general assírio Holofernes é decapitado por Judith, que assim libertou o seu povo (judeu) do jugo dos pagãos. Judith é quase um auto-retrato da própria Artemísia: forte, vingadora e convicta. A degolação pode simbolizar a castração que ela certamente queria infligir ao seu abusador.
Os quadros retratando Judith chocaram alguns de seus admiradores, tal a violência que expressavam. Estão entre os melhores da artista e podem ser considerados uma catarse.
Artemísia casou-se por conveniência com o pintor Pietro Antonio di Vicenzo Stiattesi e se mudou para Florença, onde pensava que seu passado não seria lembrado. Ela não se reprimiu como mulher, amou o marido, foi amada por ele, teve a filha Palmira Prudenzia, cumpriu seus deveres de mãe, mas nunca desistiu de ser reconhecida como pintora e dona da própria vida. Batalhou muito para conseguir abrir portas antes fechadas às mulheres, tendo sido admitida na exclusiva Academia de Desenho de Florença, onde mulher até então só entrava como modelo.
Artemísia conheceu os poderosos de Florença, como os Médici, foi amiga de Galileu, pintou para nobres de várias cidades. O silêncio que paira sobre ela talvez esteja encoberto pelo silêncio que ocultou durante anos outras grandes mulheres artistas. Não se sabe se ela perdoou o pai pelo julgamento a que foi submetida quando jovem. Seus quadros revelam, apenas, que Artemísia finalmente encontrou a paz.
Anos depois, superou o desejo de vingança sem abandonar os temas bíblicos e o apelo dramático característico de sua pintura. Acabou virando uma espécie de heroína contra o abuso do poder masculino e a favor da superação da mulher.”
Podemos encontrar as obras de Artemísia numa rápida pesquisa ao Google, mas clicando aqui vocês apreciarão vinte criações dessa magnífica artista.
Eu recomendo, ainda, a leitura do excelente estudo feito pela poeta e ensaísta Maria das Vitórias de Lima Rocha, postado no site da artista plástica Lena Gal.
Fontes:
Livro A Paixão de Artemísia, de Susan Vreeland, em artigo comentado por Bety Orsini
Old Master New Perspectives
2 comentários:
Marise,
Faço uma chamada especial, esta semana, em meu "Literatura em vida 2", para sua magnífica postagem sobre a pintora. Parabéns.
Eliane F.C.Lima
Oi, Marise!
Venho lá da Eliane. Achei seu post muito interessante. Eu não conhecia a artista. Imagine ser mulher e expressar-se para além do permitido numa época em que mulher era nada mais que parideira e animal de carga... Grande Artemísia!
Bjs. Sigo-a. Inté!
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