Retrato de Machado de Assis, 1905
Henrique Bernardelli (Brasil, 1858 – 1936)
Óleo sobre tela - Academia Brasileira de Letras, RJ
A Carolina
Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.
Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs um mundo inteiro.
Trago-te flores, - restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa separados.
Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.
O soneto, intitulado "A Carolina", faz parte do livro "Relíquias de Casa Velha", publicado em 1906, e foi o último escrito pelo autor. O também escritor Manuel Bandeira destacou este poema como uma das peças mais comoventes da literatura brasileira, de acordo com o “Almanaque Machado de Assis”.
O livro “Toda Poesia de Machado de Assis”, de Cláudio Murilo Leal, que reúne pela primeira vez toda a obra poética de Machado de Assis, apresenta o poema e traz um breve comentário.
“Carolina Augusta Xavier de Novaes e Joaquim Maria Machado de Assis casaram-se no dia 12 de novembro de 1869 e viveram uma plácida e amorosa vida conjugal durante 35 anos. A morte da esposa, em 1904, deixa Machado abatido e queixoso. Em carta a Joaquim Nabuco, datada de 20 de novembro do mesmo ano, escreve, lamentando-se: "Foi-se a melhor parte da minha vida, e aqui estou só no mundo."
Em 1906, depois de terem sido publicadas as Poesias completas, o poeta escreve seu mais pessoal e profundamente sofrido poema, um verdadeiro réquiem, intitulado "A Carolina". Talvez, para não demonstrar vestígios de um sentimentalismo piegas, Machado elege uma forma poética que reverencia também, sutilmente, o tom e a textura camonianos. Essa aproximação estilística à linguagem castiça, que renova, mais do que copia, no século XX, o sabor do verso quinhentista, foi observada por J. Mattoso Câmara, no ensaio "Um soneto de Machado de Assis".
Ao lado de conhecidos poemas como "Círculo vicioso" e "A mosca azul", o soneto "A Carolina" é considerado a mais comovente pedra de toque da obra poética de Machado de Assis.
No ano de 2006, comemorou-se o centenário de "A Carolina", publicado pela primeira vez no livro Relíquias de casa velha, soneto que não foi recolhido em algumas edições das poesias completas.”
Fonte: FolhaOnline
Curiosidade
O Jornal do Comércio publicou um interessante artigo do jornalista Antonio Gonçalves Filho sobre os escritores brasileiros mais citados por 55 tradutores, professores e bibliotecários de 19 diferentes países. E para surpresa dos organizadores do projeto, “Conexões Itaú Cultural – Mapeamento Internacional da Literatura Brasileira”, que encomendou a pesquisa, contrário à expectativa de que Paulo Coelho seria o escritor contemporâneo mais citado, foi o gaúcho Moacyr Scliar, quem surpreendeu.
Os dez escritores mais citados pelos especialistas estrangeiros consultados na pesquisa realizada pelo Itaú Cultural são os seguintes:
1- Machado de Assis
2- Clarice Lispector
3- Guimarães Rosa
4- Graciliano Ramos
5- Jorge Amado
6- José de Alencar
7- Manuel Bandeira
8- Moacyr Scliar
9- Rubem Fonseca
10- Drummond de Andrade.
Jornal do Comércio, 29 de maio de 2009, Caderno C, página 5.
Um comentário:
Aqui é o momento cultural, que aprendo e gosto muito.
Obrigada Marise!
Beijos com carinhosos
Sanzinha
Postar um comentário